A primeira apresentação de "Can we touch?" fez parte do processo de trabalho desenvolvido ao longo da oficina de performance “Arte ao Vivo”, ministrada por Nadam Guerra na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. O curso foi muito interessante: trabalhamos, no corpo, as diversas dimensões criativas da matéria por meio de diversos exercícios, práticas e dinâmicas que buscaram superar as fronteiras entre arte, vida e transformação.
Foi um workshop intenso, de fato. Houve momentos em que foi preciso simplesmente faltar a algumas aulas para que o corpo tivesse tempo de ruminar e assimilar o que, ali, confiamos ao coletivo. Há pelo menos um ano a ideia de um dispositivo relacional como “Can we touch?" estava povoando meus pensamentos. Sua concepção está relacionada às inquietações produzidas por diversas experiências de distância. Distância física de milhares de quilômetros daqueles de que queremos estar próximos: quantas vezes o desejo de um toque físico teve que ser saciado com o toque de uma imagem na tela? Experiências paradoxais de espaço que, por necessidade, tornaram meu corpo sensível a outras camadas de presença produzidas pela mediação de imagens ubíquas.
Sair do território do “eu” e caminhar em direção ao “outro” é fundamental para transmutar inquietações pessoais em artísticas. Experiências que podem ser exteriorizadas, compartilhadas e comunicadas, criando algo (in)comum. Autoconhecimento: se, no campo da performance, o gesto de olhar frontalmente para o outro é uma prática comum, como essa ação criaria outras camadas de presença à medida que o olhar passa a ser mediado por telas? Qual seria a natureza material dessa imagem que, projetada na tela, deseja sentir?
Questionamentos que foram materializados pela encenação de "Can we touch?" no Salão Nobre do Parque Lage. Nesse sentido, o feedback do público foi bastante interessante: muitas pessoas se aproximaram, observaram, passaram pela experiência e mostraram uma sensação de provocação, de “pulga atrás da orelha”. E para mim, isso é o suficiente.
"Can we touch?" emprega telefones, telas, computadores, projetores e redes sem fio para provocar mais do que um fascínio tecnológico: seu foco principal está no uso dessas tecnologias para construir um terreno que possa trazer à tona as relações ali engendradas. Relações frágeis, incertas, indeterminadas e que, portanto, são um processo aberto de experimentação.
Agradecimentos especiais a Fabricio Sortica, Nadam Guerra e aos membros do workshop pelas imagens.