como a publicidade está nos incitando à conexão digital?
“Como você não tem Facebook?”, “sem Instagram você não existe!”, “COM INTERNET EM CASA, ATÉ QUE ENFIM. JÁ ESTAVA FICANDO DOIDO…” Quem nunca se deparou com perguntas desse tipo, que atire a primeira pedra. Aliás, é justamente o tom de naturalidade dessas perguntas e vereditos o combustível que alimentou a gestação do presente livro. Afinal, como é possível que a falta da conectividade nos cause verdadeiros transtornos? E como estão emergindo modos de vida que não mais concebem a possibilidade da desconexão em redes sociais? Utilizando-se da palavra que se faz palavra sensível porque está diretamente imersa na experiência de habitar um corpo conectado em diversos aspectos e intensidades, Impressões de um corpo conectado é o resultado de um exaustivo exercício de problematização dos modos como estamos sendo incitados, via publicidade, a constituir uma vida melhor vivida por estar atravessada pela conexão digital.
E para visibilizar tão pregnante fenômeno, o estatuto da conexão digital hoje será encarado a partir de três frentes de análise: redes, compartilhamento e universalidade. Na primeira frente, faremos um mapeamento da forma como a noção de redes digitais vem, atrelada a tantos sonhos e expectativas, diluindo-se enquanto uma possível instância de produção de verdade. Na seguinte, repousaremos a atenção sobre como a prática do compartilhamento em rede vem produzindo sujeitos compartilhadores que mobilizam uma estratégia de universalização da conexão digital. Já na terceira e última, mergulharemos mais intensamente neste possível estatuto de universalidade da conexão digital constituído não só devido a sua expansão espacial e intensificação temporal, mas sobretudo ao caráter de bem maior, de existência mais completa se conectada.
O fio condutor em meio à incerteza dos passos compõe-se pelo conjunto de incitamentos publicitários à conexão digital, formado por dez vídeos e três embalagens de produtos encontrados na coincidência dos acasos que integram o viver. Assim, costurando causos do mestrado, relatos pessoais e pitadas de poesia à complexidade dos conceitos e ferramentais teórico-metodológicos foucaultianos, o texto foi didaticamente traduzido de forma fluida, divertida e, ao mesmo tempo, questionadora. O desejo maior é o de genuinamente dialogar com o público em sentido amplo: tanto com acadêmicos sedentos por profundidade quanto com curiosos que desejam expandir seus conhecimentos a novos territórios do saber. E é com tal empenho por simplificar os caudalosos meandros desta contemporaneidade cada vez mais conectada que torço para que a leitura encontre, no leitor, um instigante companheiro de jornada.